quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

No Doubt - Gwen Stefani: Artificial Sweetener; Madonna: Candy Shop





Ao pesquisar o tema na internet me deparei com a música dessa loura pop, Gwen Stefani, intitulada Artificial Sweetener. A letra faz uma relação interessante entre o doce artificial e a falsidade nos relacionamentos amorosos. O refrão em tradução apressada diz:


Estou cheia de adoçante artificial
Meu coração está sendo enganador
É tudo adoçante artificial
Estou fingindo os "eu te amo"s
Você está me forçando a isso



I’m full of artificial sweetener;
My heart’s been deceitful;
It’s all artificial sweetener;
I’m faking I love you’s;
You’re forcing me to

Madonna, outra loura pop, também relaciona um adoçante natural, o açúcar, explicitamente adjetivado de "bruto" com uma oferta sexual irresistível.
Venha pra minha loja,
pois meu açúcar é doce.
[...]
grudento e doce,
meu açúcar é bruto!


Come on in to my store;
'cause my sugar is sweet;
[...]
Sticky and sweet,
my sugar is raw!

Será que chegaremos ao ponto em que a indústria do açúcar recrutará outra loura pop (Lady Gagá, talvez) para dizer que o açúcar natural é o símbolo do amor verdadeiro?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fornicar: palavras interessantes que os romanos nos deixaram 1






Os fornax (fornos) romanos, onde se assavam os famosos panis, metade indispensável da política imperial do panem et circenseseram próximos dos arcos dos aquedutos (que eram chamados de fornix), local onde se aglomerava o populacho para fazer fila e espantar o frio e a fome. Alí também as trabalhadoras do sexo ganhavam seu pão. Logo,  fornicare, ganhou significado de meretrício, prostituição. A propósito, meretriz, vem do verbo merere = merecer, aquela que "tem que fazer por merecer" o seu ganho. Também da mesma raíz, só comiam merenda (palavra romana que significava a refeição do meio entre o almoço - prandium - e a janta - cena) aqueles que julgavam a si próprios como "os que merecem". Prostituta, (que vem de pro + statuere), etimologicamente é aquela que fica "de frente, exposta, de pé" para ser adquirida.

M.F. WHITAKER SALLES. Dentro do Dentro: os nomes das coisas. São Paulo: Mercuryo, 2002.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Wolfmother - Woman

Quando ouvi a primeira vez Wolfmother foi num show da banda Psicose (que faz um cover perfeito dessa banda australiana com a Priscila Alvarez cantando e tocando guitarra ao mesmo tempo). Na época, amplamente desconhecida, achei que era uma banda dos anos 60-70. Na verdade, formada em 2003 e na segunda formação, mantendo o vocalista/guitarrista/compositor Andrew Stockdale, Wolfmother hoje já ganhou um Grammy do Hard Rock e está até no videogame Guitar Hero 3.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sambinha da Inquisição









As forças do Mal recrutaram dois "sambistas" discípulos de Torquemada – Cruz e De La Peña – para inflingirem ao povo essa mensagem-flagelo eleitoral nada subliminar que, além de rimar em "ão", tenta convencer que Eleição = Copa/Seleção = Globo/Globalização:



2010 
é com a bola nos pés
 e o controle na mão
vai ter Eleição!
nessa Copa vai dar Brasil
salve a Seleção!
e o povo escolheu a Globo (refrão)
isso é Globalização!


Esperam que o povo se embriague para 
poderem voltar a acender as fogueiras...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sagarana Sacarina








Villén Flusser critica João Guimarães Rosa por abandonar o açúcar pelos adoçantes artificiais


Já ouvi vários lusitanos referirem-se ao português falado no Brasil como "um português com açúcar". O açúcar adoça mas não acrescenta um sabor próprio e mantém a individualidade do ingrediente adoçado. Com os adoçantes artificiais é diferente: todo mundo que já usou teve essa experiência, umas gotinhas a mais e, depois de uma doçura excessiva, vem um resíduo de gosto amargo e metálico na boca.  Bem, foi esse gosto artificial amargo que o filósofo confessou ao escritor sobre os seus incensados neologismos. Essa notável crítica de Villén Flusser a partir das muitas conversas que teve com João Guimarães Rosa faz, inadvertidamente [?], um interessante paralelo entre a "tecnicização" do verdadeiro "eu" roseano, isto é, a vitória do "lingüista" sobre o "contador de estórias", e a substituição dos adoçantes naturais como o mel e o açúcar pelos adoçantes artificiais como o aspartame, o ciclamato e a sacarina.

"A embriaguez musical de Rosa, a sua fixação sobre o "a" por exemplo, ou o efeito hipnotizante que sobre ele tinha o diminutivo "-im", a constante onomatopéia à qual se rendia, tinha para a própria gente [ Flusser ] o sabor de uma doçura excessiva, porque parecia ser resultado de um abandono fácil à essência melódica da língua portuguesa. Os neologismos roseanos (tão admirados pelos seus críticos) eram, para a própria gente [ Flusser ], muito ambivalentes e perigosamente próximos de jogos de palavras baratos. Pela razão seguinte: Rosa era essência incorporada da língua portuguesa, mas tinha também vasto conhecimento de múltiplas outras línguas. Tal conhecimento, no entanto, era vasto sem ser profundo. De maneira que os neologismos roseanos, embora perfeitamente adequados ao português, roçavam apenas a superfície de palavras nas quais na realidade vibra um mistério profundo. Que uma unica palavra sirva de exemplo: Sagarana. Sem dúvida, a palavra "soa" portuguesamente, e enquadra-se com facilidade na sintaxe portuguesa. Além disso tem a melodia do "a" tão fervorosamente amada, e por isto mesmo evoca o sânscrito com todas as suas conotações misteriosas. Mas a palavra "saga" no baixo germânico (vagamente "mito"), tem uma riqueza inesgotável que se perde em Rosa, e o sufixo tupi "-rana" sugere um plural aglutinante igualmente perdido. O que resta é apenas uma bela maneira de dizer: "vários mitos". E a gente sente por detrás disto deliberação intelectual que deixa gosto amargo na boca, a despeito de tanta doçura. [...] De um lado, o verdadeiro "eu" roseano, imerso no épos [dizer inspirado e mítico], vivendo nele e "viajando" com ele; de outro lado o "grande escritor Rosa", manipulando sempre mais perfeitamente [tecnicamente] o épos, e com isto o verdadeiro "eu". Uma "alma", a do escritor, devorando a outra "alma", a do verdadeiro Rosa. Até que a Academia de Letras tenha coroado tragicamente tal festim antropofágico. A "arte", isto é, o artifício, a artimanha e a mentira triunfaram sobre a verdade."

Flusser, Villén. Bodenlos: uma autobiografia filosófica. São Paulo: Annablume, 2007. pp.135-137.