segunda-feira, 15 de março de 2010

Dois Amargos de Carlos Nejar


AMARGA É A CARNE

Amarga é a carne
amargos são os mastros
toda a salsugem cai
na mulher que se abre

as vozes são ferozes
no pão das vagas barco
amarga é a carne
amargos são os mastros

o dia morde o sangue
na espuma que se abre
amarga é a carne
amargos são os mastros

nos dói o que sustém
o espesso do caminho
amarga é a carne
amargos são os mastros

nos gasta a espuma
o sangue é azedo gume
amarga é a carne
amargos são os mastros

nos gasta o que sustém
o fundo do caminho
quando os remos descansam
amargos são os mastros.

(LIVRO DO TEMPO. 1965)


O EXÍLIO

O exílio não é o longe,
mas o cerco.

O exílio, campo exposto,
onde pasta o pensamento,
boi que trabalha no amanho.

O exílio é um deus amargo.

(CANGA - JESUALDO MONTE. 1971)






CARLOS NEJAR. A Genealogia da Palavra. São Paulo: Iluminuras, 1989.

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