AMARGA É A CARNE
Amarga é a carne
amargos são os mastros
toda a salsugem cai
na mulher que se abre
as vozes são ferozes
no pão das vagas barco
amarga é a carne
amargos são os mastros
o dia morde o sangue
na espuma que se abre
amarga é a carne
amargos são os mastros
nos dói o que sustém
o espesso do caminho
amarga é a carne
amargos são os mastros
nos gasta a espuma
o sangue é azedo gume
amarga é a carne
amargos são os mastros
nos gasta o que sustém
o fundo do caminho
quando os remos descansam
amargos são os mastros.
(LIVRO DO TEMPO. 1965)
O EXÍLIO
O exílio não é o longe,
mas o cerco.
O exílio, campo exposto,
onde pasta o pensamento,
boi que trabalha no amanho.
O exílio é um deus amargo.
(CANGA - JESUALDO MONTE. 1971)
CARLOS NEJAR. A Genealogia da Palavra. São Paulo: Iluminuras, 1989.
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