sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sujo como Nietzsche



O filósofo mais bigodudo da história também falava de uma "Filosofia da Manhã". Em um dos seus textos chamado justamente "Aurora" (lembram-se de Jakob Böehme?) defende que toda moral provém dos instintos e atos animais, de como nos alimentamos.

"§ 26

Os animais e a moral – As práticas que são exigidas na sociedade refinada, o evitar cuidadosamente o ridículo, o que dá na vista, o pretencioso, o preferir suas virtudes assim como seus desejos mais veementes, o fazer-se igual, pôr-se na ordem, diminuir-se – tudo isso, como moral social, se encontra, a grosso modo, por toda parte até o mais profundo do mundo animal – e somente nessa profundeza vemos o propósito que está por trás de todas essas amáveis precauções: quer-se escapar de seus perseguidores e ser favorecido na busca de sua presa. Por isso os animais aprendem a se dominar e disfarçar de tal maneira que muitos, por exemplo, adaptam suas cores à cor do ambiente (em virtude da assim chamada "função cromática"), fazem-se de mortos ou adotam formas e cores de um outro animal ou de areia, folhas, algas, esponjas (aquilo que os pesquisadores ingleses designam como mimicry). Assim se oculta o indivíduo sob a generalidade do conceito "homem" ou sob a sociedade, ou se adapta a príncipes, classes, partidos, opiniões do tempo ou do ambiente: e para todos os refinados modos de nos fazermos de felizes, gratos, poderosos, amados, se encontrará facilmente o equivalente animal. Também aquele sentido de verdade, que no fundo é o sentido de segurança, o homem tem em comum com o animal: não quer deixar-se enganar, não quer deixar-se induzir em erro por si próprio, ouve com desconfiança a voz persuasiva de suas próprias paixões, reprime-se e permanece em guarda contra si; isso tudo o animal sabe igual ao homem, também nele o autodomínio brota do sentido do efetivo (da prudência). Ele observa, igualmente, os efeitos que exerce sobre a representação de outros animais, aprende a voltar o olhar sobre si mesmo a partir dali, a se tomar "objetivamente", tem seu grau de autoconhecimento. O animal julga os movimentos de seus adversários e amigos, aprende de cor suas peculiaridades, orienta-se por elas: contra indivíduos de uma espécie determinada ele renuncia de uma vez por todas ao combate e, do mesmo modo, adivinha na aproximação de muitas espécies animais o propósito de paz e acordo. Os inícios da justiça, assim como os da prudência, comedimento, bravura – em suma, de tudo o que designamos com o nome de virtudes socráticas [o bom, o belo, o verdadeiro], é animal: uma conseqüência daqueles impulsos que ensinam a procurar por alimento e escapar dos inimigos. Se ponderamos agora que também o mais elevado dos homens só se elevou e refinou justamente no modo de sua alimentação e no conceito de tudo aquilo que lhe é hostil, não deixará de ser permitido designar todo o fenômeno moral como animal."

Bom, o doce, desde momentos imemoriais foi constituido como sinalizador de alimentos seguros e saudáveis, o prazer que provoca em nós é um poderoso marcador no mapa cerebral que fomos utilizando para escolher e localizar os alimentos que nos faziam bem e afastar os que nos faziam mal.






Porquê nossa civilização ocidental cristã e capitalista desenvolveu uma especial predileção pelo doce?

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